A ideia de que a matéria poderia ser estruturada por unidades microscópicas remete à Antiguidade. Tanto no ocidente quanto no oriente, correntes filosóficas tentaram explicar a essência da matéria.
No século V a.C., na Grécia Antiga, o filósofo Leucipo é apontado como provável pai da atomística grega através de seu trabalho intitulado Megas Diakosmos (Grande Cosmologia)1,2. O pensamento eleático, derivado de filósofos como Parmênides e utilizado por Leucipo pregava:
- a imobilidade do Ser;
- o mundo é formado por aparências;
- o que os sentidos alcançam é apenas uma ilusão, não se obtém a verdade por esse meio;
- o Ser é imutável, não-gerado e eterno.
Leucipo também é associado como o mentor de Demócrito, este autor de Micros Diakosmos (Pequena Cosmologia). Leucipo é um personagem pouco relatado e alguns textos o excluem de contribuição à atomística, tornando alvo de incertezas a magnitude da sua contribuição. Por ser difícil de determinar onde as contribuições de Leucipo terminaram e onde começaram as de Demócrito, geralmente a autoria é creditada a ambos, apesar de alguns autores creditarem a autoria apenas a Demócrito. Assim, postularam1,2,3:
- O Universo é composto apenas por vazio e cheio (ou sólido);
- O sólido é formado por uma unidade chamado de atomo, ou seja, indivisível;
- Qualquer coisa pode ser subdividida até o átomo;
- O átomo deve ser indivisível até certo ponto, caso contrário nunca haveria espaço vazio;
- Há um vazio entre as entidades microscópicas, de modo que permita o movimento necessário às mudanças a nível microscópico;
- Essas mudanças ocorrem pelo movimento de átomos, que podem se recombinar através de colisões;
- A mudança ocorre apenas aos sentidos, a nível microscópico há apenas um rearranjo dos componentes fundamentais, que permanecem inalterados em essência;
- Como os átomos são indestrutíveis e imutáveis, suas características permanecem as mesmas através dos tempos;
- São distintos entre si em forma e tamanho;
- A solidez do material depende da forma dos átomos: átomos de água seriam lisos e escorregadios, os de ar leves e rodopiantes.
O filósofo Tito Lucrécio Caro, em seu poema De rerum natura (Sobre a Natureza das coisas)4, por volta de 70 a.C., relata os potulados de Leucipo e Demócrito. É atribuído a ele o pensamento que a luz visível seria composta de pequenas partículas.
O filósofo indiano Acharya Kanada, entre o século VI a.C. e II a.C., elaborou uma teoria independente sobre física, que incluía a atomística. Kanada discorreu sobre conceitos de tempo e espaço, além do bloco fundamental que chamou de anu. Conta-se que, enquanto comia, percebeu que chegava em dado ponto em que o alimento não podia mais ser dividido com as mãos. A partir daí vislumbrou a ideia da divisão da matéria ser limitada. Assim como os gregos, Kanada fez uma série de postulados sobre seus pensamentos5,6,7:
- O anu é uma matéria indivisível, microscópica e imperceptível de forma direta, mas que poderia ser inferida indiretamente;
- Os Dravya são os 9 blocos de construção da matéria, são eles: terra, água, fogo, ar, Akasha (espécie de éter elementar), tempo, espaço, atma (algo como a verdade do mundo) e mente;
- O anu pode ter dois estados: de repouso absoluto e de movimento;
- É indestrutível e imutável;
- Poderiam ser combinados entre si para gerar dvyanuka (moléculas diatômicas) e tryanuka (moléculas triatômicas);
- Podem ser combinados de diferentes formas e em presença de outros fatores, como o calor;
- O espaço é único, imutável, incapaz de movimento e homogêneo em toda sua extensão. É o que diferencia o um do dois;
- Paramanu por vezes é citada como a partícula elementar, com mínimos absolutos de comprimento, massa e volume;
- Para que a matéria seja perceptível, os elementos básicos devem estar em movimento;
- O anu deve ser simétrico em todas as direções, sendo provavelmente de formato esférico;
- O anu não é observável, é apenas uma abstração;
- O anu possui quatro tipos distintos de movimento que geram características como visibilidade, paladar, olfato e tato.
Tal qual na Grécia, Kanada propôs uma abstração filosófica para explicar comportamentos muito além da percepção sensorial. O período em que Kanada viveu não é preciso, de modo que ele pode ter sido o primeiro a vislumbrar uma partícula indivisível.
2 Stanford Encyclopedia of Philosophy - Leucippus
6 SEBASTIAN, K. L.;The Development of the Concept of Atoms and Molecules, Resonance, pag. 8-15
7 NARAYAN, R.; Space, Time and Anu in Vaisheshika, Louisiana State University